Leninha – O relato de uma mãe

Era o dia seguinte ao Natal, dia 26 de dezembro de 2014, feriado no Reino Unido. Dia nublado, fazia muito frio. O tempo estava cinza, eram 13 horas e Rian chutava as pequenas poças d’água, sorria. Encantava-se com uma cidade na qual se respira monarquia. De repente, ele, segurando minha mão direita, aperta e diz: “Mãe, eu queria que Fortaleza fosse assim”. Eu, sem entender tal afirmação, perguntei: “Assim, como? ” Rian, com os olhos e braços abertos, respondeu: “Assim, sem luz! ” Eu não gosto da luz. Eu não gosto do sol. Pronto, naquele momento tinha a certeza de que havia algo com ele e eu não sabia identificar. Partilhei baixinho com Ponciano, pai do Rian, que nosso filho teria algo na visão.

Em oito anos de vida, o passaporte de Rian tem carimbos de diversos países. Aos cinco anos, já participava dos meus estudos e montagens de roteiros de viagens e sempre colocava suas opiniões que eram: passear em cidades que estivessem com o clima frio e visitar museus.

Fui juntando as peças do quebra-cabeça. Desatenção, velocidade lenta na leitura, não conseguia andar de bicicleta, não conseguia amarrar cadarços, não conseguia copiar tarefas do quadro. Rian gosta de assistir teatro, escutar histórias, mas não gosta de ler. Tem boa expressão oral, embora com frequência “engula” alguns fonemas e sinais de pontuação. No entanto, adora MPB entre eles, Lenine, Gilberto Gil, Caetano.

No retorno ao Brasil, comecei a marcar consultas com todo tipo possível de profissional: neurologista, psicólogo, oftalmologista, otorrino. Exames diversos. E os laudos: TODOS NORMAIS. Em cada consulta, ia aos poucos percebendo que não conseguia sensibilizar os profissionais com meus relatos. Minha angústia aumentava a cada dia.

O ano letivo começaria dali a poucos dias. Rian iria fazer o 4º ano e sentia uma sede imensa de tirar nota 10 que, até então, não conseguira.

Como Mãe e educadora, não mais queria escutar, que meu filho era inteligente, mas muito preguiçoso, porque eu tinha convicção de seu potencial e de sua vontade de fazer e destacar-se.

Matriculei Rian no Kumon. Mais uma atividade para mim e para ele. Isso mesmo! Nossos longos finais de semana eram repletos de refazer as tarefas no caderno, completar tarefas de classe, estudar para a prova da semana, ler o livro paradidático e atender às atividades do Kumon. Ufa! Nossos dias eram elétricos. Quantas vezes chorei pelo cansaço, ou melhor, pela não fluência de uma assimilação de nossos estudos diários.

Com excelentes referências, fomos ao psicólogo, o Uruguaio Dr. Fernando Britz, que estava em Fortaleza. Consegui marcar uma conversa com ele e fui com Ponciano. Estava muito sensível e muito sofrida, pois iria contar novamente a história do Rian, uma criança feliz, agradável, mas desatenta quando o assunto era estudar. Dr. Fernando nos escutou e acolheu as nossas inquietações. Rian iniciou as sessões e logo na terceira sessão, o profissional conversou comigo sobre o que ele havia observado e falou sobre a hipótese de tratar-se da Síndrome de Irlen. Automaticamente, lembrei de S. F., uma aluna do 5º ano do Fundamental II, família de Belo Horizonte, que possuía o tal diagnóstico. Procurei sua mãe que confirmava as várias características comuns entre Rian e S.F. Era, então, o dia 20/04/2015. Valéria, mãe de S.F., aparece na escola onde trabalho, com uma screener e educadora de Belo Horizonte que estava hospedada em sua casa, Eliane, um dos vários anjos que nos acolheu. Realizou na minha sala alguns testes e pediu para que eu seguisse para Belo Horizonte. Tomei um susto quando ela falou a palavra SEVERO.

A partir daquele momento, iniciava a busca para algumas respostas. Anotava todos os comportamentos e queixas do Rian, até o dia em que seguimos para Belo Horizonte.

Foram dois dias intensos, daquele mês muito frio, maio de 2015. Ventava bastante. Chegamos às 7h 30min ao Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães e o término? Este, dependia das respostas visuais do Rian, que estavam sendo testadas ao extremo, causando um estresse enorme. Eram muitos profissionais na aplicação e no acompanhamento dos referidos testes, oftalmologista, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo… Que equipe!!!! Sentíamo-nos acolhidos por todos os profissionais desde a recepcionista à responsável pelo setor da Neuro Visão.

Dia histórico, 19 de maio de 2015, às 15 horas, fui chamada à sala da Drª Márcia Guimarães para receber o resultado dos exames, o diagnóstico.

Naquele momento, não consegui controlar as emoções, chorei muito. Vivenciava um luto. Muitas interrogações eram feitas em minha cabeça. Sensação de medo, revolta, arrependimento e gratidão. No meio de tantas lágrimas, queria apenas pensar no melhor.

Rian estava debruçado na mesa do consultório. Sentia fortes náuseas. O estresse visual por que passara, era desconfortante. Rian começou a testar as cores dos filtros. Sobrepondo, foram colocadas as três últimas cores. Ficou um TOM DEMASIADAMENTE ESCURO, pensei com os meus botões. Rian segurava com uma pinça os filtros. Drª Márcia abriu uma enorme janela da sala, pois estávamos à penumbra, a pedido do meu amado filho, que sorriu. Escorrendo lágrimas de seus olhos, ele disse: “ MÃE, TÔ VENDO TUDO. ” Choramos juntos.

A partir dali, fechava-se um ciclo. Uma nova etapa iniciava. Uma vida nova ganhávamos. Saí apenas com uma certeza “ Que iríamos trabalhar não apenas as habilidades, mas a tolerância” (Última frase dita pela estupenda Drª Márcia Guimarães).

Obrigada a toda equipe do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães

Leninha, Ponciano e Rian.

Primeiro Filtro julho de 2015

Rian prim filtro julho 2015

Segundo Filtro julho de 2016

Rian seg filtro julho 2016

Terceiro Filtro julho de 2017

Rian terc filtro julho 2017

Janeiro de 2018 com Dra Marcia em Fortaleza – CE

Rian jan 2018 Fortaleza CE

Família Ponciano, Eu (Leninha), Rian com nossa querida Dra. Marcia Guimarães

Rian familia dra Marcia