Um dia quando descobrir que meu filho viria, comecei a sonhar como ele seria.
Não sabia, que com isso, gerava duas crianças. Uma real com suas limitações e potencialidades, com seus medos e coragens. E uma criança em minha mente, cheia de virtudes, especialista em várias áreas, capaz de ser o próximo a receber o prêmio Nobel, ou, o melhor esportista de todos, ganhador de vária medalhas, incapaz de cometer erros. O ser perfeito.
Eu que na vida já havia cometido tantos erros, criava em minha mente o ser perfeito.
Mal sabia eu que com esta atitude me transformava em cego, surdo e mudo, para a criança que estava em meu ventre. Seus gritos por ajuda, suas súplicas por amor não me causava nada, pois estava encantado com o ser perfeito que eu estava criando em minha mente. Essa criança imaginária era tão real, que desapegar dela seria doloroso demais. Mas existe este que chegou limitado, que não é tão brilhante ou tão esperto quanto o outro, porém ele tem que ser tão mais do que eu imaginei, ele não podia ter defeito, então aonde eu errei?
E quando me vejo no espelho e percebo que a criança que nasceu precisa muito mais de mim do que eu imaginava, chega a hora de enterrar a criança imaginária, para enfim abraçar o filho de minha realidade.
Bem este é um breve relato de um mal que atinge muitos pais e mães. O mau do filho imaginário. Ou também chamado luto parental. Muito pais não aceitam as limitações do filho. E quando indagados de suas limitações e dificuldades diz que é culpa do sistema, a escola está errada, que o filho não tem nada e esta negação, simplesmente, só causa mais e mais dor.
Muitas crianças passam anos de suas vidas sem a ajuda necessária para se desenvolver por causa da cegueira dos pais e familiares.
São trocas infinitas de escola, médicos, especialistas. Querendo que seja dito que o que está no imaginários seja real. E a criança real perdendo anos valiosos de desenvolvimento por causa da síndrome do luto parental.
Mas talvez vocês estejam se perguntando: Nossa! Eu fiz isso? Meu Deus! O que eu fiz?
Não se culpe. Comece com um ato simples, vá ao seu filho olhe profundamente em seus olhos e diga estou com você. Ou melhor, não diga nada, só o abrace e comece a procurar ajuda.
Se há no mundo coisa mais extraordinário é pessoas e profissionais para nos ajudar.
Nós pais em maior ou menor grau sonhamos com o filho perfeito. O mágico que quando abrimos nos olhos e paramos de sonhar, o filho real se demonstra muito melhor que o filho de nossos sonhos. É só abraçar.
Autora: Josiane Padoani
Excelente texto! Vale muito a reflexão!
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