Por Ana Carolina Buzelim dos Santos
Publicado em 12 de maio 2018
Fonte: https://sindromedeirlen.tumblr.com/post/173833499746/minha-saúde-é-mais-importante-do-que-seu-incomodo
Não sei se estou pensando nisso pela quantidade de tempo ocioso ou por passar por isso em varias esferas da vida, mas eu gostaria muito de saber o porquê do diferente incomodar tanto?
Depois que passou a euforia de ter finalmente conseguido os óculos e de ler games of thrones por 2 horas direto sem ficar lacrimejando, eu parei para pensar que ia usar óculos escuros em lugar fechado e a noite, além de ser uma bela ‘pagação de língua’, que eu iria chamar muito mais atenção que gostaria e teria que repetir varias vezes a mesma coisa. Eu não uso os óculos por estilo, eu uso porque preciso, mas mesmo sendo algo para minha saúde e algo em mim que não posso mudar, mas preciso cuidar, as pessoas que sabem o que é, se incomodam e falam mal. É exaustivo. Eu não quero me desculpar por existir. Tive o privilégio de conseguir meu tratamento, vou seguir com ele sim, vou usar os óculos o dia inteiro, à noite, em festa, evento grande, lugar fechado. Tudo bem você não saber o que é, eu terei toda tranquilidade de responder as duvidas e explicar. Mas eu quero respeito, só isso.
Na faculdade, logo que descobri a síndrome de irlen, começaram a imprimir minhas provas em papel colorido, uma colega achou de bom tom gritar no meio da prova perguntando porque minha folha é roxa. Ela era roxa porque eu merecia igualdade, eu estava numa corrida de cavalos montada numa tartaruga dorminhoca. O sistema de avaliação é feito para um grupo muito específico de pessoas, que acham ser a maioria, se eu usei uma forma diferente foi por necessidade, não ia me colocar em vantagem se era esse o medo dos meus colegas, só iria tirar a minha desvantagem.
Eu penso muito de uma frase de sampa, do Caetano Veloso que diz ‘é que Narciso acha feio o que não é espelho’, ela me toca de uma forma profunda e me faz pensar que quem é neuro-típico não vai se enxergar nas minhas crises de ansiedade, na minha depressão, quem não tem síndrome de irlen não vai se enxergar nas lentes dos meus óculos escuros, quem tem cabelo liso não vai se enxergar no meu black power, quem é branco não vai se enxergar na minha pele negra, homens não vão se enxergar no meu eu mulher. Então as minhas dores, a minha forma de viver, os meus anseios, as minhas necessidades não vão ser compreendidas, talvez por falta de empatia.
Na próxima vez que você, pessoa com Irlen, se sentir constrangido por usar o óculos em locais que não é socialmente aceito, por normas ridículas feitas por sei lá quem, sabe-se lá quando, pense no quanto você sofreu sem e como a tecnologia assistiva dos filtros e overlays te faz viver bem melhor. Viver com menos frustrações por repetir matérias ou de não entender o que leu, com menos dores de cabeça (literalmente), menos machucados e roxos por trombar em tudo, com mais conforto.
Nossa síndrome não é reconhecida por todo mundo, nem o CFM ainda, mas vamos chegar lá, tem profissionais maravilhosos que enxergaram que não somos burros, que não estamos na área errada, que não vivemos com a luz apagada para escuridão combinar com a nossa alma (essa é para quem me conhece). Ninguém tem que acreditar para sabermos que temos, para sabemos o quanto melhorou nossas vida e até mesmo a minha autoestima estar com esses óculos 24/7 e eu também não vou me desculpar por estar com eles. Sua implicância não vale mais que meu bem-estar, só lamento. Se resolva consigo e seus preconceitos.
Tudo bem você não se ver em mim, também não me vejo em você, porque todo mundo é único, diferente. Sempre digo que se cada um cuidar da própria vida, o mundo vai ser muito melhor. Só precisamos nos respeitar, não é tão difícil
“Sua implicância não vale mais que meu bem-estar”. Adorei! 🙂
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